O perfil de risco na poupança para a reforma
A poupança para a reforma é um processo de longo curso, pelo que convém dar-lhe início o quanto antes. Mas a sua implementação não é igual em todas as fases da nossa vida.
Já falámos em outras ocasiões da importância de planificar a nossa pensão de reforma desde uma idade o mais jovem possível. Portugal é um país que beneficia de um sistema de segurança social, através do qual são cobertas necessidades importantes como os cuidados de saúde ou a atribuição de pensões aos aposentados.
E o futuro do sistema passa por continuar a ter um sistema público de pensões, contudo, para garantir a sua sustentabilidade, é importante levar a cabo algumas mudanças, muitas das quais já se encontram em marcha e outras em fase de projeto, e que podem ter influência na nossa futura pensão de reforma.
Porque é importante poupar para a reforma?
Chegar à reforma é um marco importante na vida de uma pessoa em vários aspetos. Um deles é o facto de se terminar uma relação profissional, quer seja por conta de outrem ou por conta própria, para se passar a uma etapa de inatividade. Isto tem um impacto direto sobre os rendimentos, já que a pensão de reforma normalmente representa uma percentagem do último salário da vida ativa. A saúde do sistema e a eficácia das mudanças desenvolvidas levarão a que esse diferencial, também conhecido como "taxa de substituição", seja maior ou menor.
Portanto, dependendo de algumas variáveis pessoais, como o nível de vida que desejamos manter, ou a nova estrutura de despesas que enfrentamos uma vez reformados, a maioria das pessoas irá necessitar de complementar a pensão pública com poupança privada para desfrutar de uma pensão de reforma de acordo com as suas expectativas.
O perfil de risco
O perfil de risco de uma pessoa que pretende poupar é definido, em termos simples, pelo nível de risco que pode assumir. Recorde-se que, quanto maior retorno pretendemos obter de uma poupança, maior é o nível de risco que estaremos dispostos a assumir. Não há fórmulas mágicas para evitar este binómio.
Existem tantos perfis de risco como pessoas, já que cada uma tem as suas próprias particularidades e variáveis a considerar. Eis uma classificação simples e adotada com frequência:
- Poupador conservador: Procura preservar o seu capital, evitando riscos.
- Poupador moderado: Pode assumir algum risco, procurando um retorno algo maior.
- Poupador decidido: Tem margem de manobra para assumir riscos maiores, esperando obter retornos mais elevados.
Como aplicar a poupança para a sua pensão de reforma?
Por vezes partimos da ideia errada de que a poupança é uma simples prática de acumulação e de investimento de capital, independentemente de outras circunstâncias, quando na realidade é uma tarefa que requer planeamento: analisar o ponto de partida, onde queremos chegar, qual o prazo de que dispomos, etc.
No caso da poupança para a reforma, não é uma exceção. Vejamos quais os principais fatores a ter em conta:
1 - Poupar para a pensão de reforma é um dos objetivos de poupança mais importantes da nossa vida, já que tem impacto muito direto numa fase da vida em que estamos limitados ao nível da atividade profissional e em que os nossos rendimentos são menores. Por isso, devemos ser muito cautelosos com a poupança e perceber de forma muito clara em que fases podemos assumir riscos ou não.
2 - A reforma, apesar de ser um objetivo que está distante no tempo, requer uma planificação com muita antecedência. Em primeiro lugar, para distribuir o esforço de poupança por um período de vários anos. Em segundo lugar, para aproveitar os primeiros anos de vida profissional, nos quais temos margem para correr alguns riscos controlados.
3 - No processo de poupança para a pensão de reforma, como referimos anteriormente, é provavelmente onde mais claro se torna que o perfil de risco vai evoluindo. No início, com um horizonte temporal grande até à reforma, podemos ser "decididos". Podemos, pois temos margem de manobra para procurar um maior retorno e deixar que as nossas poupanças "trabalhem" a médio prazo em produtos com uma componente de risco que, em prazos médios e longos, apresentam normalmente resultados positivos. Numa fase intermédia, entre o início da nossa vida profissional e a reforma, vamos tendo margem de manobra, mas logicamente esta será menor. Podemos assumir investimentos com uma certa componente de risco, mas de uma forma mais controlada. O nosso perfil de risco é "moderado". À medida que nos aproximamos da reforma, o objetivo prioritário deverá ser consolidar a poupança e transferi-la para produtos de poupança cujo foco é a preservação do capital. Após muitos anos de esforço de poupança teremos reunido um capital considerável cujo destino é de máxima importância: complementar a nossa pensão de reforma pública. Nesta fase o nosso perfil é "conservador": não podemos comprometer a nossa missão.
Como vemos, a poupança para a pensão de reforma é como uma viagem de comboio de longo curso, na qual é importante saber em que estações devemos sair de uma carruagem para entrar noutra, mais adequada ao nosso destino.