Os especialistas alertam que o desconhecimento sobre os níveis de poupança necessários para obter uma pensão de reforma, em sistemas que cada vez mais assentam nas pessoas e menos no Estado, é um grave problema para o futuro. E, por isso, urge tomar medidas.
“Muitas pessoas não têm o nível de literacia financeira necessário para decidir quanto devem poupar em preparação para a reforma e para gerirem as suas poupanças e investimentos”. Esta é uma afirmação de Peter De Proft, diretor-geral da EFAMA, a Associação Europeia de Fundos e Gestão de Ativos. “Se nada for feito, não se augura nada de bom para o futuro, tendo em conta que a responsabilidade pela provisão financeira está cada vez mais a transitar do Estado para os indivíduos”, acrescentou.
Embora este possa parecer um tema distante, referente a outros países, De Proft falava da situação de toda a Europa. A associação realizou um estudo, recentemente divulgado em Bruxelas, revelador de como a falta de cultura financeira se estende por todo o continente.
A Europa enfrenta uma crise de falta de cultura financeira, com milhões de cidadãos sem conhecimentos, incluindo conceitos básicos relativamente ao mundo das poupanças e dos investimentos, como as taxas de juro ou a inflação, diz o estudo. “O analfabetismo financeiro é geral, mas é particularmente acentuado entre grupos demográficos específicos”, explica a professora Annamaria Lusardi, da George Washington School of Business. “Os baixos níveis de cultura financeira não se limitam a um país ou estado de desenvolvimento económico, estão por toda a parte”.
O estudo examinou o impacto de uma taxa de juro de 2% num depósito de 100 euros, e aqueles que deram a resposta correta (102 euros) oscilou entre menos de 40% em alguns países e 85% em outros, com a Holanda, a Alemanha e a Suíça a destacarem-se entre os melhores. Além disso, ainda que entender o risco e a importância da diversificação afete bastante as decisões de investimento, apenas uma minoria compreende o conceito de diversificação: a maioria não sabe o que é ou respondeu de forma errada. O estudo mostra ainda que há uma lacuna problemática entre o nível de conhecimento financeiro que os cidadãos crêem que têm e o que realmente demonstram ter.
Daí a necessidade de combater essa falta de cultura financeira. Como? “A prioridade de qualquer plano para melhorar a cultura financeira deve ser reinstaurar as matemáticas básicas em qualquer currículo europeu nos primeiros anos de escola”, indica Guillaume Prache, diretor da Federação Europeia de Utilizadores de Produtos Financeiros.
Enquanto isso, a EFAMA apela à concretização destas ideias em políticas úteis: “Os esforços para fortalecer a informação financeira e o aconselhamento financeiro apenas terão efeito se tiverem origem em políticas destinadas a melhorar o nível de cultura dos indivíduos”, acrescenta Bernard Delbecque, diretor de Análise e Economia da EFAMA.
O relatório da EFAMA sublinha a importância do desenvolvimento de parcerias entre governos, o setor financeiro, as instituições europeias e os meios de comunicação para promover a educação financeira de uma forma eficaz.
Neste sentido, a EFAMA disponibiliza guias para iniciativas de educação e recomenda a cada país que, com base nos problemas e necessidades dos seus investidores, trace objectivos realistas para melhorar a educação dos seus cidadãos. Após o que recomenda a definição das mensagens e a identificação do público a que se destinam. “Personalizar a educação para os investidores e torná-la divertida e interessante” ou “uma linguagem simples ajudará a garantir que a mensagem é entendida e memorizada” são algumas dicas destes guias. Os cidadãos com mais conhecimentos financeiros são potencialmente melhores poupadores e investidores. Os especialistas têm essa noção e, por isso, desenvolvem esforços nesta área.